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Dez destaques da décima edição do Rallyspirit

Vai hoje para a estrada uma edição especial do grande rali histórico português, integrado no calendário Slowly Sideways. Saiba o que não pode deixar de ver!
Hugo Reis
5 de jun. de 2025

Fotos: Rui Reis, Daniel Soares, Carlos Tavares, McKlein e organização

Às vezes ainda custa a crer que temos em Portugal um evento do calibre do Rallyspirit. Os nossos amigos da XRacing merecem a admiração dos fãs dos ralis por, ano após ano, conseguirem trazer para a estrada um evento que tem vindo a crescer de interesse, com um plantel de modelos cada vez mais interessante. 

A receita é fantástica por levar o rali até junto da população, com as passagens pelos centros urbanos de Porto, Vila Nova de Gaia e Barcelos, como que a atrair os público para as estradas sinuosas onde acontece o verdadeiro espectáculo. Mas para quem não quer sujar os sapatos no meio do monte, há alternativa muito boas, como a PEC de Braga, de que falamos mais abaixo.

Em todas as edições há aspectos particularmente especiais e mediáticos. Nesta edição número dez, destacamos dez pontos que merecem destaque, uns que são novidade e outros não.

Reinhard Klein

Já há vários que Reinhard Klein tem vindo a competir no Spirit, na maioria das vezes aos comandos do seu pequeno mas musculado MG Metro 6R4 do Grupo B, com as cores dos carros oficiais.

Se a máquina é, por si só, merecedora de destaque, o piloto ainda é mais, pois para aqueles a quem o nome não soe familiar, convém referir que é só um dos mais importantes foto-jornalistas do mundo dos ralis, com um portefólio que cobre décadas da modalidade e que se destaca não só pela quantidade, mas sobretudo pela qualidade. 

Ao cabo de alguns anos de actividade, fundou a empresa McKlein, juntando-se ao colega Colin McMaster e a Tony Welam. além de funcionar como uma agência de fotografia, é também uma editora, com inúmeros livros excepcionais já publicados.

Reinhard Klein é ainda o criador do “Slowly Sideways”, o grupo de proprietários de automóveis históricos de rali, que participam numa ronda de eventos seleccionados, entre os quais está o Rallyspirit. 

A organização do Spirit conseguiu, com mérito, atrair o líder do grupo, que agora é responsável pela presença de várias das mais espectaculares máquinas em prova e que, além do mais, é um excelente conversador, com um “catálogo” de memórias inacreditável. 

Timo Salonen

Para impor o Rallyspirit no panorama nacional e internacional, as primeiras edições contavam sempre com um nome grandioso da história dos ralis, como piloto convidado. À medida que o rali foi crescendo e a lista de inscritos se tornou organicamente mais especial, quase não se deu pela falta do piloto convidado.

Este ano, contudo, a efeméride justificou o regresso de um “peso-pesado” dos ralis. Timo Salonen, campeão mundial de rali de 1985, vai estar presente ao longo do evento, muito embora não possa competir, por motivos de saúde. 

No entanto, quem quiser conhecer melhor o piloto e ouvir histórias do seu passado, terá oportunidade de o fazer na noite de sexta-feira, em Barcelos, onde o Salone participará numa tertúlia moderada por José António Marques e... eu mesmo.

Ortigão em Celica Gr. B

Não é a primeira vez que Jorge Ortigão alinha na prova organizada pelo seu filho. Na mais recente edição, foi um dos pilotos que estiveram ao volante do Ford Sierra RS Cosworth ex-Diabolique, na homenagem à equipa e a Joaquim Santos.

Este ano, contudo, a sua participação é ainda mais especial. Não só volta aos comandos de um Toyota, marca com que foi feliz no nacional, como regressa navegado pelo simpático Pedro Perez, um dos seus navegadores dos anos áureos.

A carreira de Jorge Ortigão sempre foi marcada pela condução de máquinas submotorizadas, pelo que embora vá apenas na categoria de exibição, o salto para os comandos de um “monstro” do Grupo B é quase uma merecida recompensa, para este talentoso e destemido piloto.  

Máquinas ex-Diabolique

Já que falamos em Diabolique, vale a pena mencionar que, este ano, voltam ao Spirit duas máquinas da importante equipa. 

Uma delas é o carismático Ford Escort RS1800 “GU”, pilotado pelo seu proprietário, António Soares. O som e as cores do Escort não deixam ninguém indiferente e esta é uma das raras oportunidades para matar saudades de uma máquina que encantou os portugueses durante anos a fio. 

A outra máquina é o Ford Sierra RS Cosworth 4x4, o último carro da Diabolique, que fez um único rali, antes do encerramento surpreendente da equipa. Mantendo-se incrivelmente original até aos dias de hoje, será pilotado por João Arantes, hoje proprietário deste pedaço de história. 

Mas nem só de Ford se faz a história da Diabolique, e Jorge Faria irá alinhar na prova aos comandos do Porsche 911 SC em tempos usado pela equipa e que se encontra hoje primorosamente restaurado.

Fiat 131 Abarth oficial

O coleccionador Manuel Ferrão, grande adepto dos ralis, tem sido presença habitual no Rallyspirit, tenho alinhado em diferentes máquinas, com destaque para o incrível Ford RS200 ex-Diabolique. 

Este ano, traz-nos outro modelo extraordinário: nada menos que o primeiro 131 Abarth da equipa de fábrica. Este exemplar foi usado no desenvolvimento do modelo e participou pela primeira vez no rali de Saluzzo, uma prova oficial do campeonato italiano conduzido pelo mítico Giorgio Pianta, piloto de testes da Abarth e usando ainda um motor 1840cc de 16v anteriormente usado no 124 Abarth. 

Mais tarde, após obter a homologação em Gr.4, o mesmo exemplar alinhou com as cores oficiais (Olio Fiat), num rali Ilha de Elba, pelas mãos de Markku Alén, que venceu com naturalidade. o que faz dele um dos automóveis mais especiais desta edição.

Carlos Tavares

Além de grandes nomes dos ralis, o Rallyspirit tem também reunido importantes personalidades. Este ano, uma delas é Carlos Tavares, o destacado gestor português que recentemente bateu com a porta do Grupo Stellantis, do qual era CEO. 

No entretanto, Tavares tem-se dedicado com mais assiduidade às provas de clássicos de velocidade, onde tem pilotado máquinas fantásticas, como o seu Chevron B21, mas não só. 

Como participante habitual em ralis de regularidade histórica, decidiu comprar ao ex-Campeão Nacional de regularidade, João Vieira Borges, o seu já conhecido Porsche 911 3.2. Agora, aproveitando a preparação do belo Carrera, irá competir no Rallyspirit, na categoria de históricos. 

Trabant 800RS

Mas nem só de máquinas poderosas e vencedoras se faz o Rallyspirit. As curiosidades são grande parte do fascínio dos ralis históricos.

Olivier Hermans e Marc Hermans, são sempre uma das equipas mais aplaudidas e acarinhadas das mais recentes edições do Spirit, graças ao improvável Trabant!

Usado no campeonato da Alemanha democrática, mas não só, o 800RS era a versão mais extrema do Trabant, com um motor a dois tempos com uns generosos 780cc, capaz de debitar 65cv. A compensação está na leveza da carroçaria feita de “duroplast”, um compósito que inclui fibras de algodão e cartão prensado, que permite um peso total de apenas 620kg. 

Além de soar como um diabo da Tasmânia, este pequeno “souvenir” da Alemanha de Leste, tem impressionado pela condução empenhada do simpático Olivier Hermans.   

 

Pablo Pazó

Os adeptos de rali dividem-se entre os que gostam de espectáculo e os que gostam de rapidez e eficácia. Ora, para unir ambas as facções, o Rallyspirit tem vindo a contar com o notável Pablo Pazó. 

O piloto espanhol tem alinhado sempre no seu fiel Talbot Sunbeam Lotus, um pequeno mas potente modelo de transmissão às rodas traseiras, que ficou famoso pelas participações da equipa oficial no Rali Tap, com os pilotos Guy Fréquelin e Henri Toivonen. 

Pablo Pazó tem o condão de combinar o mesmo nível de espectacularidade na condução, com um andamenta realmente sério, que já lhe permitiu terminar o Spirit como vencedor na classe de Históricos. Uma performance a não perder. 

Campeões nacionais e não só

Mais do que celebridades, alguns dos pilotos participantes nesta edição foram ídolos de uma geração e escreveram parte da história dos ralis nacionais e não só.

Provando o quão atractivo é o formato do rali, há alguns campeões do passado a alinhar na prova, como é o exemplo do tri-campeão nacional, Fernando Peres, que participará aos comandos de um Mitsubishi Lancer Evo IX. 

Também com um passado e presente fortemente ligado à Mitsubishi, Rui Madeira vai voltar a participar no Rallyspirit navegado pela sua mulher, Paula Madeira. A simpática dupla já provou no passado que tem condições para discutir a vitória na categoria Spirit. 

Outro grande nome da velocidade e dos ralis é João Baptista. O ex-campeão nacional de velocidade, estará aos comandos do modelo que marcou a sua carreira, o Mini Cooper S. Apesar de pilotar uma das máquinas mais antigas e menos potentes da classe, João Batista impressiona sempre pelo seu andamento, que renega o bilhete de identidade.

Especial de Braga

Uma novidade introduzida no rali na edição passada e que se revelou uma aposta vencedora, é a PEC realizada no KIB, unindo o kartódromo e o autódromo. 

O traçado bem desenhado na pista, permite que os pilotos tomem mais liberdades e arrisquem uma condução mais espectacular, devido às melhores condições de segurança. 

Para o público, é uma forma cómoda de assistir ao rali e que permite ver cada máquina durante mais tempo e em várias curvas diferentes e, tristemente, a única vez no ano em que a competição volta ao Vasco Sameiro. 

Este ano há duas passagens, ambas na sexta-feira, uma às 13 horas e outra às 18.30.

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