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autoClássico: a febre continua a subir

Uma enchente de entusiastas dos 8 aos 80 e pavilhões a abarrotar de expositores, provam que a febre dos automóveis está para durar.
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13 de out. de 2025

Fotos: Rui Reis

Apesar de nas duas últimas edições o salão autoClássico ter passado a ocupar todos os pavilhões da Exponor, num total de mais de 70.000m2, o espaço consegue, ainda assim, ser pequeno para o cada vez maior número de visitantes. 

Com números exactos ainda por apurar, é sabido que terá voltado a ultrapassar os 40.000 visitantes e que, no sábado, terá ultrapassado o recorde de entradas num só dia, não apenas do autoClássico, mas da história da Exponor.

Os picos de afluência continuam a provocar problemas que a organização tenta ultrapassar, nomeadamente a necessidade de promover e estimular cada vez mais a compra de bilhetes online, no sentido de reduzir as longas filas na bilheteira. 

Com os bilhetes a terem um desconto na compra antecipada, este ano foram muitos mais os que optaram pela compra online, mas, ainda assim, a organização deseja que haja cada vez mais a escolher esta via. 

A invulgar afluência de visitantes resultou mesmo em alguns problemas técnicos nos terminais, que causaram constrangimentos momentâneos, algo para que a Eventos Motor acredita ter já uma solução para 2026.

Muito melhor do que em anos anteriores, funcionou o estacionamento de clássicos para os visitantes. Continuam a existir dois pavilhões cobertos com espaço para o estacionamento, mas existe agora um parque exterior (dentro da Exponor, mas com entrada pela lateral), com grande capacidade e com um acesso muito mais rápido e fluído, que permitiu descongestionar consideravelmente toda a avenida nos momentos de maior movimento. 

Ainda assim, como em todos os eventos de massas, à semelhança de um jogo de futebol ou de um concerto, não houve um espaço em redor do centro de exposições que não se enchesse de automóveis de visitantes, o que prova que o entusiasmo dos portugueses pelos automóveis não esmorece.

MotorXperience, uma enchente acima das expectativas
No final da edição do ano passado, soube-se que, por questões de manutenção do espaço exterior, seria impossível manter o Motorshow tal como o conhecemos no passado. As provas nos parques de estacionamento causam um desgaste do pavimento que não é compatível com as exigências da FIA, quando chega o momento de usar a mesma área para acolher o paddock do Rali de Portugal. Por isso, a Eventos Motor precisava de encontrar uma alternativa para aquele que era um dos grandes atractivos do fim-de-semana. 

Assim, os organizadores foram em busca de uma solução que mantivesse boa parte da acção e que, ao mesmo tempo, colmatasse um vazio existente no que dizia respeito a um espaço mais amplo e abrangente de exposição de veículos de competição. Paralelamente, incluiu uma vertente cada vez mais importante no panorama da paixão pelos automóveis e pelo desporto motorizado: a competição virtual. 

O circuito virtual ali montado, com dois ecrãs gigantes a mostrar toda a acção em tempo real e com comentários ao vivo, “colou” milhares de entusiastas ao longo do fim-de-semana. Pelos vários simuladores disponíveis, passaram alguns ases do nosso automobilismo, como Filipe Albuquerque, Rafael Lobato ou Noah Monteiro. 

Vários foram também os momentos em que os visitantes puderam experimentar as sensações cada vez mais reais e envolventes dos simuladores e até competir por um prémio “Do virtual para o real”, em que quatro pilotos vencedores ganharam uma experiência em pista num Honda Civic da Type R Legacy Cup, com o coaching de um piloto experimentado. Estes prémios foram oferta da Brás & Filho e do autoClássico MotorXperience..

A somar a tudo isso, havia no exterior uma pista onde decorrereu o 1º Troféu de Perícia MotorXperience, demonstrações e mesmo uma competição entre sócios do Porsche Club Portugal. Nos intervalos, o famoso piloto "freestyle" Paulo Martinho que deliciou o público com as suas incríveis habilidades em moto e automóvel.

Exclusive Top Cars a magnetizar uma nova geração
Na mente dos entusiastas portugueses uma grande confusão entre o que é um automóvel antigo e o que é um automóvel clássico e, talvez por isso, é difícil aceitar que haja um pavilhão dedicado a automóveis novos, mas coleccionáveis. 

A verdade é que o Exclusive Top Cars veio ocupar um espaço que, em todas as 20 edições realizadas até 2023, nunca esteve ocupado. No passado, o autoClássico deixava sempre um pavilhão da Exponor vazio. Isso significa que os automóveis novos não vieram retirar espaço aos antigos, mas vieram, isso sim, trazer um novo foco de interesse e um novo público. É inegável que, para as novas gerações, este pavilhão é “o prato principal”, com as gamas desportivos actuais da Aston Martin, Ferrari, Bentley, Porsche, Maserati e BMW, marcas representadas oficialmente. A francesa DS aproveitou também para ali fazer o lançamento nacional do seu luxuoso topo de gama, o DS8.

Não há outra forma de cativar novos entusiastas. Mesmo nós, os de gerações anteriores, provavelmente começámos a gostar de automóveis apreciando os modelos que nos eram contemporâneos e só depois começámos a apreciar os modelos que já cá andavam antes de nós. Por isso é que esta fórmula resulta e é fomentada em eventos como a Retromobile e outras referências internacionais, onde os “spotters” e os “youtubers” acabam por ter o primeiro contacto com a história automóvel. 

Para quem cresceu nos anos 80, o pavilhão do Exclusive Top Cars traz-nos também memórias dos tempos do Salão Internacional do Automóvel do Porto, onde os stands das marcas eram um espectáculo de luz e cor. 

Destaque ainda para o lounge montado neste pavilhão com o apoio da Murganheira, onde os convidados das marcas puderam desfrutar de bons sabores e bons momentos de convívio. 

Igualmente apoiado pela Murganheira foi o Concurso de Elegãncia de Superdesportivos, incluido no Exclusive Top Car. O público foi o responsável pela escolha de um vencedor, de entre um conjunto de automóveis de sonho, e acabou por consagrar o notável Kimera EVO37.

Exposições temáticas em grande número
O ano de 2025 está cheio de efemérides automobilísticas que serviram de mote a exposições temáticas no salão autoClássico. Logo a dar as boas-vindas aos visitantes, estava a exposição dedicada aos 70 anos do Citroën DS, que reuniu exemplares de quase todas as versões, incluindo as Break, o Décapotable e, também da Chapron, o Magesty, a rara versão “limusine” de três volumes, da qual foram produzidas apenas 27 unidades. 

Também a cumprir o 70º aniversário estava o Volkswagen Karmann-Ghia e, por isso, houve também um espaço dedicado ao modelo com três exemplares representativos da linhagem. Igualmente septuagenário, é agora o Fiat 600, que teve também o seu espaço dedicado, incluindo, claro está, um Multipla.

Mais velho é o “pão-de-forma”, o carismático modelo Type 2 da Volkswagen esteve representado por modelos desde o início ao final da sua longa vida comercial, nasceu há 75 anos. Também a SEAT nasceu há 75 anos e o representante da marca reuniu um leque de modelos importantes na sua história, tendo, estranhamente, deixado de fora o importante 1430, derivado do 124 e que foi um best-seller em Espanha. 

Um pouco mais jovem é o Volkswagen Polo, que conta agora 50 anos e, entre outros, trouxe para o seu aniversário um exemplar da primeira geração e um excêntrico Harlequin, a versão multicor. 

O BMW Série 3 está também a completar 50 anos, mas no autoClássico, celebrou-se, em particular os 40 anos do BMW M3 (lançado em 1985 em Frankfurt). Para isso, a organização reuniu várias versões muito exclusivas do M3: um E30 Cabriolet, um E30 2.5 Sport Evolution, um E46 CSL e um E92 GTS. Ao lado, estava também um M4 CSL, mas o grande destaque ia para o M3 2.5 “Art Car”, decorado pelo artista português Luio Onassis, e que lidera actualmente o Campeonato Nacional de Clássicos Legends, pilotado por Luís Liberal. 

Pavilhão principal, um indicador do mercado?
O “core business” do salão autoClássico continua a ser a exposição do pavilhão 4, onde se reúne a maioria dos mais importantes comerciantes e restauradores da Península Ibérica. 

A dinâmica deste pavilhão principal acaba por evidenciar a vivacidade e dimensão do mercado, mesmo num ano em que a conjuntura nada tem de favorável. Note-se, por exemplo, que nesta edição e por motivos diversos, estiveram ausentes expositores habituais e muito conhecidos como José Barquinha, Departamento Clássico (Trocas) ou João Machado (AlfaClássicos) VF Auto e Robalo & Macedo e, apesar disso, o pavilhão não chegou para albergar todos os que desejavam estar presentes. 

Para os lugares vagos entraram estreantes no salão, como RM Oldtimer, Bruno Martins, Aguiar Automóveis, Abraão Santos, GT Motors, Dishiro, Homecars, entre outros. Registo também para o regresso da Jorcar, que conseguiu conciliar a presença no autoClássico em simultâneo com a exposição do paddock do Estoril Classic, dividindo a equipa e o stock.

Mas nem só de comerciantes de veículos clássicos se faz o pavilhão 4. Além de algumas entidades como o CPAA ou o Museu do Caramulo, a Livraria Ascari e a revista Topos & Clássicos e várias empresas de serviços, estiveram presentes com grande destaque nesta edição a Castrol, a promover os seus lubrificantes, e a Mattel a promover novos produtos feitos em colaboração com a  marca Hot Wheels.

Mantiveram-se muitos dos expositores habituais, como a Mecurito, Pep’s Gang, António Carvalheira, Paradigma, ClassicCars50to80, Corrida Histórica, SSR, Juan Lumbreras e Good Old Times, esta, como sempre, com um stand verdadeiramente imponente.

Sendo cada vez mais difícil nomear os destaques de cada expositor, o que vale a pena sublinhar é a diversidade da oferta, mas um crescendo cada vez mais notório dos automóveis mais exclusivos e valiosos. Eram muitos os Ferrari e Porsche, assim como os Jaguar dos anos 50, 60 e 70 em exposição e um pouco menos os clássicos acessíveis, como os pequenos GTI e outros modelos dos anos 80 e 90. Como se sabe, é difícil dizer que a oferta do salão define uma tendência, pois é sempre possível que o panorama seja totalmente diferente em 2026. 

Nesta fase é difícil dizer se este é ou não um ano atípico, mas o certo é se verificou novamente o nível de vendas habitual no salão. No final do fim-de-semana havia muitos automóveis com os desejáveis letreiros "Vendido". Mas mais importante do que isso – e porque é sempre difícil vender enquanto decorre o salão – é o feedback muito positivo que apurámos junto da maioria dos expositores, tendo quase todos saído da Exponor com perspectivas de negócio ao longo dos dias seguintes. 

No final de domingo, os ânimos estavam em alta entre os expositores do Pavilhão 4, o que acaba por ser um dos grandes desígnios da organização. 

Espíritos em alta para 2026
A grande afluência de público, o entusiasmo dos comerciantes e a chegada de novas caras e novas empresas ao leque de expositores, deixaram os organizadores animados e com planos muito concretos de melhorias e crescimento em 2026. 

Aos resultados positivos junta-se a boa notícia para organizadores, expositores e sobretudo visitantes de que, em 2026, não há coincidência de datas com o Estoril Classic. A mudança do evento da Race Ready e Peter Auto para uma data posterior, permite perspectivar um novo aumento do número de visitantes no autoClássico de 2026, que assim se torna, cada vez mais, no maior evento do género na Península Ibérica.

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