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O mercado em 2025: está na hora de comprar?

Da descida contínua à estagnação, o mercado de clássicos está a mudar. Para melhor ou para pior? Isso depende do seu pé-de-meia.
Hugo Reis
28 de mai. de 2025

Estamos a viver um momento invulgar no mercado dos automóveis coleccionáveis? Não, estamos a sair de um. 

Como é sabido, o período COVID provocou um fenómeno inesperado de aceleração do mercado quase a níveis recorde. Não só o número de vendas cresceu imenso, como o valor médio cresceu significativamente em todos os segmentos. 

Sem nada para fazer, os entusiastas escolheram olhar para os ecrãs em vez de olharem para as paredes. Sem poderem gozar a vida, começaram a pensar no dia seguinte e no que lhes daria gozo ter na garagem. Os automóveis passaram também a ser uma cápsula de segurança, em que era possível sair de casa e viver momentos divertidos, quase sem socializar.

Ao mesmo tempo, com a economia “em pausa”, os veículos de colecção passaram a assumir-se como uma boa forma de fazer um “depósito a prazo”. 

Estas duas realidades provocaram uma subida generalizada, tanto nos segmentos mais altos do mercado, como nos segmentos mais mundanos.

Contribuiu também para esta realidade o facto de as leiloeiras terem decidido aproximar-se dos seus clientes através dos leilões online. Depois de meses a “comer pó” de plataformas como o “Bring-a-Trailer”, todas as grandes casas de leilões modernizaram os seus processos e foram comer do bolo dos leilões digitais. E que banquete se montou!

Mas assim que o mundo voltou a pôr o nariz fora da janela, o foco dos investidores voltou-se para outro lado. Ao mesmo tempo, alguns empresários tinham caído em desgraça e precisavam de colar os cacos resultantes do momento mais atípico qua a sociedade viveu nas últimas décadas.

Para quem apenas queria voltar a viver a vida, havia uma sede de viajar e muitas outras coisas para fazer. Assim, aqueles que tinham feito comprar por impulso, voltaram a inundar o mercado e os que ainda não tinham comprado, tinham mais em que pensar. 

Seguiu-se, inevitavelmente um período de ressaca, agravado pelos conflitos mundiais, em particular a guerra na Ucrânia, que afectou severamente a economia. 

Apesar disso, não aconteceu propriamente um “crash”, mas antes uma descida progressiva e pronunciada. Muitos exemplares deixaram de encontrar comprados nos leilões, não porque não houvesse procura, mas porque os valores de reserva se revelavam desajustados. Nos stands, os stocks congelaram, porque os preços de há um par de anos já não mais faziam sentido. 

No entretanto, o ajustamento, que sempre tem de ser progressivo, aconteceu. E se é certo que, aqui no nosso canto, seremos os últimos a sentir verdadeiramente a mudança da tendência, o certo é que os ecos dos mercados centrais, assim como os dos comerciantes nacionais que trabalham mais com o estrangeiro, espelham uma nova realidade, reportada pelos principais analistas . 

Actualmente, o mercado internacional começa a ser marcado por um número de transacções mais próximo do normal e em linha com o que acontecia imediatamente antes da pandemia. Dito isto, o valor transaccionado, é inferior, como seria de esperar, mas já não se verifica uma rota descendente tão pronunciada, como revela a Hagerty no seu relatório mensal internacional.

Mudanças nas tendências
Mas esta momento do mercado trouxe também outras surpresas, nomeadamente na distribuição dos compradores por diferentes sectores.

Uma análise cuidada revela que houve uma queda repentina nas vendas de modelos coleccionáveis posteriores ao ano 2000, depois de vários anos em que estes têm sido o motor do mercado. No entanto, os modelos do século XX compensaram, com uma subida nas vendas, e um ligeiro aumento no seu valor médio. 

Mais surpreendente, no entanto, será a ascensão da procura e a subida dos valores médios dos automóveis pré-guerra, com a década de 30 a ser aquela que revelou maior crescimento nos valores (13%) relativamente a 2024. 

Irão os “youngtimers” perder fôlego?
Provavelmente, a resposta é não... A questão é que os proprietários, os comerciantes e as leiloeiras, ao verificarem a tendência de subida dos automóveis dos anos 90 em diante, foram “com muita sede ao pote”, e forçaram uma subida excessiva destes modelos que, em alguns casos, não têm níveis de raridade ou sofisticação que justifiquem alguns preços praticados. 

O mercado pode ter momentos de entusiasmo excessivo, mas não é apenas um rebanho obediente. Há um momento a partir do qual o comprador diz “basta” e começa a olhar para alternativas e a considerar modelos que, se calhar, estavam fora do seu radar.

Isso não significa que não haja um ressurgimento dos modelos mais antigos. O universo de entusiastas continua a crescer, mas cada vez se produz menos modelos desportivos ou carismáticos vocacionados apenas para o prazer de condução.

A combinação desses dois factores leva o mercado a olhar mais para o passado em busca do modelo que vai proporcionar aquele prazer que as marcas já não podem satisfazer.  

O que vem a seguir à estagnação?
Há uma conjuntura económica, em particular em Portugal, que em nada favorece os negócios do “supérfluo”. Além da incerteza quanto aos conflitos mundiais, ainda não estamos recuperados dos abanões da guerra das tarifas americanas ou do turbilhão político nacional.

Nesse contexto, a queda do valor médio dos automóveis coleccionáveis, para os valores pré-COVID, tem vindo a gerar algumas oportunidades que só os mais atentos detectam. É possível que se mantenha esta descida lenta por vários meses, mas depois de um período como este, há o “risco” de uma retoma no médio prazo. 

Por isso, se há algum sonho automóvel que esteja por concretizar, é possível que o momento certo esteja para breve. Fique atento, ou comece já a pensar usar o seu poder negocial enquanto o mercado está morno. Só não espere demasiado...