Twingo: só entra quem sabe sorrir!
O Twingo não se parece exactamente com nada, mas não surge do nada. Foi resultado de uma confluência de circunstâncias e ideias geniais. A “semente” vem de 1975, altura em que a Renault achou pertinente começar a estudar um sucessor para o Renault 4 que, pelo preço e versatilidade, era um sucesso de vendas e uma verdadeira “vaca leiteira” para a marca.
Fruto das circunstâncias, esse sucessor nunca chegou ser concretizado. O Renault 5 nasceu com outros objectivos, mas ensinou à marca que valia a pena assumir riscos e fazer automóveis diferentes. E ensinou também que um automóvel que sorri, vende.
No início dos anos 80, a Renault voltou a tomar uma decisão arriscada ao produzir um conceito de automóvel novo, o Espace. Não foi um projecto fácil de rentabilizar, mas a imagem de arrojo e inovação que deu à Renault, acabaria por trazer dividendos. O Espace inaugurou um género de automóvel que, mais do que um meio de transporte, era um modo de vida. Dentro dum Espace, passava-se tempo de qualidade. Especialmente porque o conceito de monovolume permitia, com o mesmo comprimento e largura de uma berlina, ter muito mais espaço útil e muito mais modularidade.
Embalada pelo entusiasmo que o Espace gerou, a Renault começou a trabalhar num monovolume de dimensões utilitárias. O briefing foi entregue ao designar da marca, Gaston Juchet mas também ao estilista do momento, Marcello Gandini. Do estirador de cada um, saíram ideias interessantes, mas o monento ainda não era o ideal, e a ideia voltou para a gaveta.
Tudo mudou em 1988, com a entrada em cena de Patrick Le Quément. Bem-disposto e corajoso, Le Quément chegou (vindo da Ford) para liderar o design da marca francesa e trazia vontade de correr riscos. Quando lhe foram mostradas as maquetes à escala real dos projectos do pequeno citadino, não escondeu o entusiasmo. Acreditava verdadeiramente no conceito e, de imediato, começou a esboçar o que achava que deveria ser o aspecto da carroçaria. As formas em cunha eram obrigatoriamente para manter, por questões funcionais, mas ao acrescentar-lhe uns faróis redondos, que o próprio descrevia como parecendo “os olhos de um ratinho, mas com uma expressão quase humana”, Le Quément definiu imediatamente a personalidade do modelo.
O projecto foi evoluindo, com Jean-Pierre Ploué a finalizar o desenho exterior e Gérard Gauvbry a desenhar um habitáculo condizente com o exterior, mas com o máximo de funcionalidade e economia de produção. A grande consola central que aglomera quase todos os botões e funcionalidades do automóvel, permitia simplificar imenso o processo de construção. Os detalhes coloridos, as formas arredondadas, tudo era fundamental para vincar o carácter do modelo.
O produto “quase acabado”, foi apresentado ao então CEO Raimond Levy, que adorou o modelo e o propôs à administração. Como seria de esperar de um projecto tão invulgar, houve mais narizes torcidos e receios, do que entusiasmo. Le Quément foi informado de que havia muitas reservas quanto ao projecto e que, por isso, Levy ainda não podia dar uma luz verde. Seguro da sua visão e do valor do que tinha em mãos, Le Quément escreveu ao CEO a seguinte frase: “Não há risco maior do que não correr riscos. Peço-lhe defenda o design instintivo conta o marketing extintivo”. Levy terá respondido simplesmente “Concordo consigo”. O resto, já se conhece...
A prestigiada revista de negócios Fast Company usou o Twingo como um exemplo de um produto disruptivo, numa reportagem de 2004 intitulada "Please, displease me.“ (Por favor, desagrada-me), como forma de expressar a ideia de que a boa inovação, normalmente não tem um aspecto agradável, fácil de se gostar à primeira
Le Quément soube reunir-se de uma equipa de marketing entusiasmada e motivada para trabalhar algo nunca visto, com um conceito nunca experimentado. Terry Plategenest seria o Director de Marketing do Produto e sabia que um modelo tão arrojado, exigia uma estratégia robusta e uma campanha atenta aos detalhes. A começar pelo nome: Twist, Swing e Tango são as palavras que formam o nome Twingo e exprimem, por si só, o espírito alegre e descontraído do modelo.
Para a campanha, era preciso encontrar uma música que expressasse essa mesma “joie de vivre” e que ficasse no ouvido. A escolha recaiu na divertida versão do tema “Hush Little Baby”, interpretada pelo violoncelista Yo-Yo Ma e cantada por Bobby McFerrin (o cantor do famoso "Don’t worry, be Happy").
Quando estavam a pensar na imagem usada na campanha de comunicação, Le Quément e Plategenest concordaram que deveriam evitar “infantilizar” a comunicação, para não exagerar a imagem que o design, por si só, já transmitia. No entanto, quando a equipa de publicidade lhes apresentou o desenho ao estilo “cartoon” que pretendia usar na campanha, todos sorriram e afirmaram “É mesmo isto!”.
Depois, havia que passar uma mensagem forte, que ajudasse a posicionar o produto na mente do consumidor e a quebrar resistências. Para tal, era preciso um “headline” central para a campanha que fosse expressivo. O resultado, genial, foi: “Inventa a vida que condiz com ele”.
O Twingo era muito mais do que apenas publicidade. As características do produto, alinhavam com a promessa de marketing. A versatilidade era o ponto forte do modelo, com um espaço interior e uma habitabilidade enormes para um modelo tão pequeno.
O banco traseiro deslizante que permite optar entre mais bagageira ou mais espaço para passageiros é um dos detalhes principais, assim com o facto de todos os bancos rebaterem de forma a criar uma verdadeira cama de casal e também o enorme espaço de carga quando os bancos traseiros são recolhidos.
A enorme superfície vidrada cria um ambiente a bordo especial e favorece a visibilidade, as grandes portas facilitam o acesso de passageiros e a simplicidade e funcionamento intuitivo de todos os botões e manípulos, tornam a vida descomplicada.
O motor era uma derivação do veterano Cleon-Fonté, simples mas robusto, e económico graças à adopção da injecção electrónica. Conservador, mas adequado à tarefa, por ser tão confiável.
Para o lançamento, foram escolhidas apenas quatro cores alegres, que ajudavam a perceber o “espírito Twingo”: vermelho “coral”, amarelo “indiano”, azul “ultramarino” e verde “coentro”. O exemplar anunciado na Motorbest é precisamente desta última cor, que é talvez a que melhor assenta a um Twingo da primeira geração, pois condiz com os detalhes do interior como os botões da ventilação, das luzes, etc.
Este exemplar é do final de 1993 e, portanto, da primeiríssima geração do modelo. Os "Twingómanos" saberão que os exemplares com uma única luz interior do lado passageiro e com a abertura da porta traseira apenas por chave, são escassos e particularmente procurados. Este é um desses.